Data: noviembre 2, 2015 | 14:33
VAZANTE | Rio Negro deve alcançar a cota de segurança só daqui a 2 meses...

Comunidades não se preparam e sofrem com a seca de novo; assista

Moradores das comunidades ribeirinhas no entorno de Manaus caminham até 7 quilômetros para pegar água. | Foto Sandro Pereira

Moradores das comunidades ribeirinhas no entorno de Manaus caminham até 7 quilômetros para pegar água. | Foto Sandro Pereira

Após dois anos sem uma vazante intensa, pelo menos cinco comunidades ribeirinhas no entorno de Manaus, localizadas no baixo Rio Negro, estão sofrendo as consequências da descida brusca das águas. Nas vilas só é possível acesso por meio de rabetas. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a vazante é considerada “crítica” e os efeitos ainda serão sentidos pelos próximos dois meses, quando o rio deve alcançar a cota de segurança de 19 metros…

© Giselle Rodrigues – Diário do Amazonas

As comunidades de Ebenezer, Julião, Portugal, São Sebastião, Agrovila e Fátima, segundo a Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial da Marina do Davi (Coop-Acamdaf), não são atendidas por barcos há dois meses, em decorrência da mobilidade pelos rios que foi afetada. Para se chegar nessas localidades é necessário pegar duas embarcações e enfrentar o encalhamento em diversos pontos do rio.

Mesmo sendo uma rotina cíclica para quem habita estas comunidades, os moradores não se preparam, de novo, para o período da seca. De acordo com a pesquisadora em geociências do CPRM, Luna Alves, a população destas localidades está tendo que caminhar 7 quilômetros para buscar água potável. Próximo das casas só mesmo lama.

O Diário visitou, na última quinta-feira (29), a comunidade da Agrovila Amazonino Mendes que fica na margem direita do igarapé Tarumã-Mirim, onde o principal meio de acesso se dá por via fluvial. O trajeto que era feito em 20 minutos em tempos de cheia, atualmente, por causa da baixa profundidade do rio, chega a alcançar três horas no percurso de ida e volta.

O trajeto cansativo nesta época do ano faz com que o agricultor Getúlio Braga, 57, reduza as vindas a Manaus para a compra de mantimentos e escoamento da produção. Segundo ele, para chegar até a comunidade onde mora (Ebenezer), precisa pegar outra embarcação na Comunidade Livramento e andar mais de um quilômetro a pé até chegar em casa.

Sem aulas e sem médico

Morador há 36 anos da comunidade que fica dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, o agricultor e pescador Inácio Castro Monteiro, 48, interrompeu as entregas de farinha para Manaus por causa da seca e passou a vender nas comunidades próximas a localidade. “Não vale a pena, porque tenho que pagar dois, três transportes até Manaus”, disse.

Para o agricultor, que recebia o benefício do seguro-desemprego de pescador, a vazante pegou a todos de surpresa na comunidade. Acostumado com o processo de cheia e vazante dos rios, Inácio esperava que a seca não fosse iniciada tão rápido.

“Agora ninguém pode ficar doente não, porque morre antes de chegar em Manaus. Eu tenho diabetes, tenho que ir todo mês comprar remédio na farmácia, mas o rio desceu demais. Melhor ir andando que chega mais rápido”, afirmou.

Marlon de Souza, 49, vendeu a rabeta para compor a renda. “Vendi por R$ 200. Impossível andar quase um quilômetro para colocar a rabeta na água”, explicou.

O calendário acadêmico dos 130 alunos da Escola Municipal Professor Paulo Freire, segundo o diretor Raimundo Mendes, 49, é elaborado conforme o período da seca .

As aulas têm início na primeira semana de janeiro finalizando o ano letivo em outubro, segundo o diretor, sem férias escolares no meio do ano. Os alunos não conseguem chegar com o transporte escolar (barcos) por causa da vazante.

“A seca rege nosso calendário. Para quem passa direto na primeira quinzena  já está liberado. Estamos aqui ainda só cumprindo as atividades burocráticas”, afirmou.

Ainda conforme o diretor, na comunidade, onde mora cerca de 400 pessoas, existe apenas um posto de saúde que estava fechado na última quinta-feira. Segundo ele,  devido a seca, os barcos maiores não chegam e por isso os médicos e dentistas não estão vindo para atender a população.

A aposentada Antônia Maricaua fechou o comércio e está vendendo a sua casa para ir, segundo ela, para um lugar que sofra menos com a vazante.

A cota do Rio Negro

A cota do Rio Negro, monitorada pelo Porto de Manaus, começou a subir na última quarta-feira em média 3,5 centímetros por dia, mas o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) alerta que, ainda, pode haver um repiquete provocando uma nova vazante.

A pesquisadora em geociência do CPRM, Luna Alves, explica que a descida atípica do Rio Negro após o fim da vazante, caracteriza o fenômeno.

“Na verdade se a gente observa quando começa a subir é bem estável, não costuma descer, só mesmo quando há um repiquete que é incomum, mas pode acontecer, como aconteceu em 2012”, disse.

A Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC), para evitar acidentes devido à baixa visibilidade por causa da fumaça das queimadas e, em decorrência do período da vazante, pede que os condutores das embarcações redobre a atenção ao navegar em trechos que, conhecidamente, já possuem bancos de areia ou pedras.

Segundo informações da Capitania, no último dia 6 de outubro uma embarcação do tipo expresso e encalhou em um banco de areia no município de Manacapuru. De acordo com o órgão, o acidente ocorreu devido à baixa visibilidade no momento. Ninguém se feriu.

Clima: El Niño provoca a estiagem

A baixa incidência de chuvas, provocada pelo fenômeno El Niño, é segundo o superintendente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marco Oliveira, a principal causa do baixo nível das águas, uma vez que mesmo sem a entrada da água vinda das chuvas, o rio continua fluindo em direção ao Oceano Atlântico.

A vazante deste ano já supera as de 2013 e do ano passado, segundo Oliveira. A cota mínima em 2013 foi 27,30 metros do ano seguinte 23,51 metros e segundo o Porto de Manaus a deste ano alcançou 15,92 metros. A descida das águas do Rio Amazonas, em Iquitos, no Peru e em Tabatinga, também vem apresentando diminuição no ritmo, segundo o superintendente.

Por conta da vazante, a Praia da Ponta Negra está fechada há cinco dias. A interdição pode durar até 11 de dezembro deste ano, segundo informou a Prefeitura de Manaus.

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